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IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

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Espíritos Livres

A ignorância é preferível ao erro, e está menos afastado da verdade aquele que não acredita em nada do que aquele que acredita em algo errado.” (Thomas Jefferson)

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São Gabriel, RS, Brazil
Militar do Exército Brasileiro formado pelo Escola de Saúde do Exército, Bacharel em Direito pela URCAMP, blogueiro, ATEU, livre pensador e filósofo por natureza. Procuro o equilíbrio através do conhecimento. “Pareceis inteligente de tal forma que, no dia em que errardes, sereis visto como irônico.”

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Por quê o sucesso alheio incomoda tanto?



                                                     Por Marcos Joel


Pedro(*) foi um pessoa muito pobre quando criança e na sua adolescência. Nasceu em uma família paupérrima junto com mais três irmãos. Seus pais não haviam concluso, nem ao menos, metade do ensino fundamental e tudo o que aprenderam foi com o que a vida lhes apresentou. Seus únicos desafios eram manter o sustento da família e os vícios do patriarca. Seu pai era alcoólatra e violento. Após o divórcio deles, teve uma vida de muito trabalho, sofrimento e privações. Deixou seus estudos para dedicar-se ao trabalho com o intuito de ajudar sua mãe e irmãos a se manterem. Cresceu com amigos inseparáveis e, mesmo com muitas abstenções materiais, ainda assim, teve momentos bons e felizes em sua, até então, simplória vida. Apesar disso tinha ele sonhos, mas, por mais que trabalhasse, por mais que se esforçasse, suas aspirações continuavam sendo … sonhos.

Mas Pedro não esmoreceu. Após atingir a maioridade resolveu voltar aos estudos, pois desejava vencer na vida. Fora o apoio familiar, foi desmotivado a investir em cursos intensivos preparatórios para concurso público federal pelos seus amigos, até então, inseparáveis. Afirmavam que era perda de tempo, pois era mais fácil ganhar um prêmio na loteria a alcançar o cargo público almejado. A persistência mostrou o contrário. Hoje, Pedro já completou mais de dez anos de efetivo serviço em seu tão almejado cargo público. Conquistou sua tão sonhada casa própria, constituiu família e tem uma vida confortável. Atualmente cursando nível superior e língua estrangeira, lança-se a novos e mais altos desafios: deseja agora fazer algo bom pelos outros, algo de melhor para a sociedade.

Quanto aos seus 'amigos' do passado, continuam os mesmos: 'sonhando', reclamando do emprego, do seu chefe, do governo, da saúde, do salário, da vida. Literalmente, pararam no tempo. Não bastasse, o culpam demasiadamente de ter se tornado um snobe, um arrogante, alguém que mostra superioridade, um excêntrico."

Se você identificou-se com o exemplo, você não está sozinho. Pode-se sustentar que centenas de pessoas encontram-se hoje nesta mesma situação.

Regra geral, o ser humano acomoda-se com muita facilidade. Se um indivíduo consegue adquirir à força do trabalho um teto para morar, o sustento basilar, uma roupa da moda e um sobejo para supérfluos e outras quinquilharias, entende-se que este chegou ao seu auge, ao ápice de sua capacidade laboral. Seu sonho é aposentar-se o mais cedo possível ou, caso consiga, encostar-se pelo INSS, de modo a perpetuar o ato no tempo. Cultura e conhecimento não fazem parte de seu vocabulário. Ao defrontarem-se com alguém que conseguiu ser bem sucedido, afirmam que este teve sorte na vida, que já nasceu rico ou que é um “baita de um sem-vergonha e malandro”. A vida e o mundo não prestam. Os ricos não valem nada e, para com os pobres, Deus não foi justo ou é sua sina viver de forma desafortunada.

Aos que que sonharam, batalharam e chegaram, ou estão atingindo a meta que haviam proposto para si próprios, a visão da vida torna-se totalmente diferente. Ela tem cheiro e gosto de vitória. A cada degrau ascendido é uma benesse concedida por Deus. Parece que tudo em sua existência dá certo: têm e mantêm uma vida confortável, possuem casa própria, carro, conhecem pessoas bem sucedidas, possuem um nível sócio-cultural razoável, etc. Mostram-se sempre seguros e, geralmente, estão à frente de eventos importantes sobre assuntos sociais. Parecem sempre estar felizes.

O crescimento e o amadurecimento humano não são marcados por fatores predestinados por um ente superior metafísico. São marcados pela escolha personalíssima feita por cada um de nós frente a várias circunstâncias que a vida nos oferta. A vontade de Deus ou do Diabo são tão insignificantes quanto o desejo da mula-sem-cabeça em interferir no seu livre-arbítrio. Mas isto somente é reconhecido e compreendido por pessoas já maturadas. Por suas opções em seguir o caminho do desenvolvimento intelectual e humano, seja por uma vida melhor, seja pelo auto-conhecimento, tais pessoas deixam para trás personagens queridos de seu convívio íntimo. Pessoas que fizeram parte de suas vidas, que foram amigos, colegas de escola, cursinho, companheiros de trabalho; a quase totalidade fica pelo caminho afora.

No decorrer da obstinada escalada empreendida por pessoas focadas em um objetivo, o espaço o qual se coloca como óbice dos outros, que por opção - pois sua vida reflete hoje a decisão tomada em seu passado; pode-se comparar a um imenso abismo interposto entre ambos. As diferenças são manifestas. Aos que ficaram inertes, resta a impressão e a sensação de estarem frente a um ser de outro planeta, pois ambos, de fato, já não falam a mesma linguagem. Seus ideais e objetivos são diferentes, suas posturas frente ao mesmo fato não mais combinam. A ignorância resta explícita e a culpa da tal mudança recai sobre os ombros de quem decidiu mudar sua vida, mudar os fatos, vencer.

Contudo, salienta-se, não se culpe. A realidade mostra-se flagrante, pois a compreensão de tais atos não partirá da parte ociosa, mas do seu revés. Tente compreender que foi você quem mudou. Você até pode afirmar que não, que no seu íntimo, em seus pensamentos ou seus atos, não transpareceu mudança significativa. Mas, acredite, você mudou. Imagine então dois amigos, ambos com portes físicos parecidos, que não se encontram há mais dez anos. Um deles fez exercícios físicos diariamente com a finalidade de ganho de massa muscular e o outro somente jogou a sua bolinha em finais de semana esporádicos. Ao se reencontrarem, este verá que seu amigo mudou drasticamente sua aparência por ter se exercitado muito, estando agora musculoso. O outro, por mais que seja apontado suas mudanças, por ter ele sentido gradativamente em seu corpo tal metamorfose, irá afirmar que quase não sofreu alteração significativa. O mesmo acontece com quem optou pela mudança de atitudes em sua vida. Com a conscientização e a meta de progresso cultural atingida, será este realmente diferente perante a sociedade. Será um ser evoluído.

Mas, reforça-se, não se puna por isto. Não foi você que ficou indiferente frente a cada situação a qual teve de se adaptar. Foram os outros, que, por vontade própria, por seu livre arbítrio, fizeram-se mandriões. O fato é que, ao deixar de frequentar certo grupo social e, ascender por próprio merecimento a outro, você não irá ser compreendido pelo círculo que sofreu a perda. Alguns poucos poderão reconhecer seu mérito, mas a maioria esmagadora irá lhe taxar de snobe e arrogante, que o dinheiro ou o sucesso lhe "subiu à cabeça ". Não se desalente. Compreenda que você não pode exigir o mesmo discernimento de um fato concreto de alguém que se manteve desatualizado, se manteve retrógrado por opção, por ser conveniente a ele, por ser mais prático para sua simplória vida, por ser muito mais fácil para si, como seria a alguém com qualidades similares as suas em que prepondera a justa consideração.

Também não sinta dó, não sinta compaixão por quem preferiu a inatividade ao conhecimento gradativo e continuado. Não se adentra ao mérito de uma decisão personalíssima tomada, pois somente quem a concretizou é que pode responder o motivo pelo qual esta se materializou. Pode-se afirmar que cada um ocupa a posição social que exatamente deseja e encontra-se onde merece devidamente estar, pois assim o pretendeu e o aplicou por seus pensamentos e a realização de suas ações. Mesmo nas várias camadas ou níveis sociais, hoje conhecidos, sobressair-se-ão personagens que irão compor o próximo grupo, deixando aqueles que, por algum motivo, desistiram de perseguir o algo a mais em suas vidas.

Conforme nos ensina Abraham Maslow, eminente psicólogo americano, o ser humano se distingue por diferentes etapas acossadas e conquistadas em sua existência. Divide ele, em uma pirâmide ficta, os cinco estágios pelo qual a evolução pessoal pode passar. A base da pirâmide é preenchida por pessoas pelas quais lutam por necessidades fisiológicas fundamentais, tais como: fome, sede, sono, sexo, excreção, abrigo. Na segunda etapa encontram-se as que perseguem necessidades de segurança, que vão do simples ato de sentir-se seguro dentro de uma casa às formas mais elaboradas de segurança: como um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro de vida. Na terceira, as que sentem necessidades sociais ou de amor, afeto, afeição e sentimentos, tais como, os de pertencer a um grupo social ou fazer parte de um clube. No quarto estágio, deparam-se com necessidades de estima que passam por duas vertentes: o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos. Por fim, ao topo, vêem-se seres com necessidades de auto-realização, em que o indivíduo procura tornar-se aquilo que ele pode ser: What humans can be, they must be. They must be true to their own nature! ("O que os humanos podem ser, eles devem ser. Devem ser verdadeiros com a sua própria natureza!"). É neste último patamar da pirâmide que Maslow considera que a pessoa tem que ser coerente com aquilo que é na realidade, afirma: "temos de ser tudo o que somos capazes de ser, desenvolver os nossos potenciais  ".

Em vista disso, deve-se observar que a grande maioria não se afasta do terceiro estágio da evolução humana por medo, receio, comodismo ou por mera e simples vontade de não progressão. São poucos os que avançam as duas últimas etapas e raríssimo são os que à extremidade chegam.

Contrariando Friedrich Wilhelm Nietzsche, os que alcançaram o topo da pirâmide não nasceram póstumos nem estão à frente de seu tempo, mas sim, estão acima dos que não quiseram galgar até seu apogeu. Estando criaturas humanas em níveis diferentes, haverá compreensão e interpretação diferente sobre o mesmo fato. Não se está afirmando aqui que pobreza deixa alguém menos digno ou menos inteligente. É claro que a inexistência de poder aquisitivo reflete sobre as ações que aquela pessoa pode ou não tomar. Dificulta em demasia seu progresso e sua educação. Agora, pobreza não é vergonha. Pobreza é apenas um estado momentâneo que encontra-se o indivíduo. Se, realmente, almeja-se mudança, será ela deixada para trás por pura perseverança. Existem muitos personagens que ocupam posições elevadas e privilegiadas em nossa sociedade e que são demasiadamente ignorantes, inéptas, hipócritas e que possuem, em tese, alto nível intelectual, mas não sabem fazer uso correto de suas habilidades. O que não se pode confundir é pobreza com humildade. A mídia em peso insiste no uso de humilde como sinônimo de pobre. Humildade é um estado de ânimo, é compreensão que alguém pode ter de que, não fazendo domínio sobre determinado assunto, faz-se necessário o reconhecimento da superioridade do outro. É a capacidade de reconhecer onde se está errando. É o agir com deferência.

O mérito desta exposição também não é o tamanho, a quantidade do poder aquisitivo alcançado ou por ser futuramente conquistado. Mas o esforço acometido para alcançar o que se deseja. O sucesso é apenas o resultado. Pode-se afirmar que existem três formas de alcançar o fim cobiçado: 1º) nascendo em “berço de ouro”, 2º) sendo sorteado em por algum grande prêmio lotérico ou 3º) com muito investimento na educação. Como a quase totalidade não teve a sorte de ser enquadrada nos dois primeiros, somente resta o estudo. Neste quesito, a regra geral é sempre muito bem aplicada. O mais conveniente é o que será aplicado por ser menos custoso a ser empregado.

Parafraseando Martin Luter King, compreenda você, que se identificou de certa forma com Pedro, a devida importância de seu avanço intelectual, de seu amadurecimento como pessoa, como ser, como ente pensante. Aos que atingiram o topo ou estão em plena ascensão, devem estar cientes que não são, na atual conjuntura, as pessoas que deveriam ser frente a sociedade e aos problemas que dela emanam. Sim, hoje são vencedores e, por isso, não se sintam presos pelo fato de terem andado em direção ao conhecimento e ao sucesso, tanto pessoal quanto o profissional. Sabe-se também que não serão amanhã o que representam hoje, pois mudanças importantes ainda os moldarão futuramente. Mas, deve-se ter a certeza de que não são mais o que, de início, eram no florescer de seu entendimento, seres incapazes de pensar e desejar por si próprios.

Por todo o exposto, compreende-se que não deve-se sentir culpado ou, de certo modo, sentir compaixão por alguém ter decidido permanecer na inércia e não acompanhar o mundo ao seu redor ou não ter a ambição de crescimento intelectual e humanístico. A incompreensão alheia só reforça o entendimento que se é tirado de tal atitude. Deve-se, sim, aceitar que por sua decisão pessoal decidiu não perseguir seus sonhos, seus anseios, suas paixões. Entenda você que deve libertar-se dos fantasmas que assombram seu passado e, doravante, traçar novos objetivos e usufruir dos que os aguardam. Tenha orgulho do que conseguiu e onde chegou. Sabe-se que ninguém faz nada sozinho, mas o impulso inicial é único. Ele é somente seu.

"Há três espécies de ignorância: nada saber, saber mal o que se sabe e saber coisa diversa da que se deveria saber."

Charles Pinot Duclos


(*) Nome fictício

Direção Perigosa? Acalme-se.