Por Marcos Joel
Para quem gosta de um filme que tem duplicidade de entendimento, o filme O Livro de Eli, com seu personagem principal, Eli (Denzel Washington), um viajante solitário o qual faz de tudo para proteger “O” livro que mudará o destino dos sobreviventes na terra, ou seja, a Bíblia Sagrada, é um prato cheio.
A história se passa em um futuro não muito distante no qual a humanidade sofre as consequências por não cuidar da Terra, onde falta tudo: comida, saúde, segurança e o principal … água. Por todo lugar o perigo espreita a todos e Eli tem a nobre missão de proteger o livro sagrado e seguir a ordem que uma voz em sua mente comanda: para que siga para o oeste.
Eli vaga por “30 invernos” eté chegar a uma cidadela, que é comandada por Carnegie (Gary Oldman), onde mantém um exército de vândalos sustentado por seu bar e regados a água, álcool e mulheres.
Um dos poucos homens letrados que sobreviveram ao cataclisma que dizimou a população do planeta 30 anos antes, Carnegie está em busca de um determinado livro, que pode expandir sua esfera de dominação a uma escala inimaginável. Não tarda para que ele descubra que o estranho que está passando por seus domínios carrega o que pode ser o último exemplar dessa obra.
Está montado todas as peças de xadrez no tabuleiro. De um lado Denzel Washington, o mocinho, que tem a honrosa missão de proteger o último exemplar da Bíblia, e mantém a esperança de transmitir seus conhecimentos ao resto da população sobrevivente. Por outro lado, aparece o bandido, Gary Oldman, que pretende usar dela para aumentar o domínio sobre seus súditos, já que quase ninguém mais sabe ler.
Em primeira instância compreende-se que Eli tem a pretenção profética de salvar o restante da humanidade trazendo o conforto da palavra de Deus, aferecer luz a suas vidas e conduzir seus sobreviventes para a salvação. O filme traz, em suma, este entendimento direcionado.
Mas pode-se compreender sua mensagem de uma outra forma. Carnegie, o bandido, com toda a sua biblioteca particular, mantinha sua cidade em plena ignorância, não transmitindo seu conhecimento, ciente de que assim detinha o contole sobre eles. Seu maior triunfo seria possuir o último exemplar da Bíblia, para então manipular definitivamente toda a massa em sua total insipiência.
Pode-se perceber que, de fato, o importante não é a transmissão do conhecimento a população com a finalidade de aparente liberdade – a realidade é que ninguém é totalmente livre, assim como o é aplicado e vivenciado hoje em nossa sociedade, onde a “grande massa” é manipulada como marionetes por quem está no poder. Se a “manada” não detém conhecimento, não possui educação, fica fácil a sua condução. Além disto, a disseminação “da palavra” de um ente superior, criador dos céus e da terra, conhecedor do presente, passado e futuro, a quem não tem o hábito de pensar, de questionar e se satisfaz com explicações retiradas de apenas um único livro, o qual foi escrito por um pequeno grupo de profetas e apóstolos analfabetos ou semi-analfabetos, é de fácil absorção. O que de fato importa é o poder de controle da massa popular sem a sua resistência.
Altamente recomendável apreciá-lo. Mas sob um olhar crítico.
“Inversamente proporcionais são o poder que tem a manipulação através das palavras e a detenção dos instintos que nos privam da comum inteligência.” Vitor C.
“Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas.” Napoleão Bonaparte, imperador Francês