Caros Livres Pensadores
A regra em escrever um texto ou artigo deve ser, sem sombra de dúvida, redigido em terceira pessoa. Mas vou fugir a norma para poder mostrar a posição que tomo e defender o que penso. Então, segue-se assim.
Sinto-me fraco e impotente. Após a abertura deste blog, minha vida tem mudado muito. Ao assumir a postura de ATEU, a sociedade, a que faço parte, me condena de tal forma que, parece que estou agindo de modo criminoso por não aceitar algo que é imposto de forma coercitiva por esse grupo social. Vocês não sabem o tempo que levou para eu poder defender tal posição. Sabendo o que a sociedade espera, demorou muito até eu ter a coragem suficiente para enfrentar, de cara limpa, a saraivada de protestos pessoais que iriam atingir a minha pessoa. Hoje, parece que sou um "doente mental" ou que o Diabo está possuindo a minha mente, por não mais aceitar o que me é, diariamente, imposto como o "caminho correto", por questionar os entendimentos da Igreja. Meus conhecidos me perguntam: Por quê? Desde quando? O que me fez mudar de ideia e não mais crer na Palavra? Condenam a mim por não crer em mais nada. Enviam a mim pessoas "conhecedoras da Palavra de Deus" para me questionar, para me testar e perguntar o que eu acho sobre determinado assunto e, ao que respondo, infligem textos e mais textos bíblicos, ensinamentos do Senhor, sustentando que eu estou errado, que eu devo pensar melhor, que o Diabo está me testando. Mas, pergunto, por que vêm a mim se não aceitam o que penso?
O que me faz refletir é: por que os chamados "crentes" não conseguem suportar ver alguém que afirma que não crê mais em Deus em paz? Onde está o livre arbítrio das pessoas? Onde está o respeito? Onde está a sua liberdade? Por quê, obrigatoriamente, estes seres devem tentar, a qualquer custo, converter tudo e a todos? Alguém já viu algum ateu bater de porta em porta desmentindo as estórias, isto mesmo, estórias, contadas por seguidores dos mais diversos deuses e deusas existentes? Por acaso já foi visto algum ateu colocando outdooors em terrenos baldios com frases do tipo: "Não creiam em Deus, ele é uma farsa; A história da bíblia é um amontoado de fábulas; A Religião é uma praga." Não. Nunca foi visto e não o será.
A verdade é que nenhum crente suporta ver alguém que seja decidido, alguém que não tem medo de questionar, de perguntar o porquê. Se você questiona um crente, ele te rebate de forma bruta e ameaçadora, como se a nossa vida dependesse dessa resposta: Você então duvida da Palavra de Cristo, duvida do Filho de Deus? Isto é uma heresia! Infelizmente, ante a este tipo de pensamento e de pessoas cegas, não temos o direito, enquanto humanos, de O questionar.
Mas, então temos de aceitar tudo como nos é imposto? Perguntas surgem aos montes e as respostas estão ao nosso redor, é só as procurar. Questione-se:
Quem foi Cristo?
De onde vem a Religião?
Como foi escrito a Bíblia?
Quem escreveu a Bíblia?
Quem e o que influenciou a composição de seus personagens?
Por que a Igreja é contra tudo o que é sensato para a Ciência?
Por que a Religião prega a impotência pessoal?
Por que o ser humano precisa ser eterno?
De onde vem a ideia de céu e inferno, bem e mal, Deus e o Diabo?
Posso perguntar qualquer coisa e a história nos responderá.
Mas, a questão não é esta. O mérito é por que não posso ser livre para usufruir do próprio pensar. Por que estes insensatos crentes infernizam, por assim dizer, as nossas vidas, a dos ateus. Ateu nada mais é do que o fato de não mais crer em um ser sobrenatural, a não aceitação de um ente metafísico como criador e regulador de nossas vidas. Ser ATEU é negar um deus, seja ele qual for. E o que tem de errado nisto? Me perguntam se não tenho mais fé, mas, o que de fato é a fé? Nos conta a história que quem tem fé, tem fé em um ser sobrenatural, tais como: o sol, a chuva, o trovão, o mar, Chimichagua, Quetzalcóatl, Nãmandu, Jeová, Huitzilopochtli, Coyolxahuqui, Baal, Hare, Allah, Brahma, Mahayana, Shu, Tefnet, Osíris, Khnemu, Seket, Menfis, Amaterasu, Buda, Amon-Rá, Zeus, Júpiter, Posêidon, Tezcatlipoca, Xangô, Pachamama, Ull, Shiva, Nhanderuvuçu, Krishna, Ishtar, Jesus Cristo, Cihuacóatl, Cihuacóatl, Mictlantecuhtli, Kinich, Ahau, Pã, Wakan Tanka, Unkulunkulu, Vulcano, Buda, Maomé, Allah e segue-se algumas centenas de nomes que poderiam ser citados.
O certo é que o deus que rege o local onde você nasceu, rege também a sua vida. Se você nascesse no Brasil, provavelmente o seu deus seria o deus dos cristãos, ou seja, Deus ou Jeová. Se nascesse na Palestina, seus passos seriam guiados por Allah. Se na China ou Coréia, seu guia seria Buda. E fosse quaisquer deles, o seu deus seria o deus correto a ser seguido, os outros não existiriam e seriam renegados ao não reconhecimento da divindade e não teriam qualquer valor.
Entendo que fé é muito subjetivo. Posso ter fé, isto é, crer em algo, e ao mesmo tempo, ser um descrente. Afirmo que creio na Teoria da Evolução, Em Quasares, Buracos Negros, Teoria das Supercordas, Teoria dos Buracos de Minhoca, na finitude do nosso universo, na probabilidade de existir outros universos paralelos, na Teoria do Acaso, entre outras. Então tenho fé, pois creio em algo. Somente não creio no seu deus e, em relação a isto, sou descrente.
Mas a ideia inicial era falar um pouco sobre a parábola de Jó. Sabe-se que Jó é um personagem biblico do Antigo Testamento e que foi "tocado" pela mão do Diabo, ou seja, foi testado por ele, com a autorização de Deus, com o intuito de testar a sua fé em Seu Criador. Perdeu tudo e quase foi-lhe desprovido da vida, mas não profanou a seu Deus. Para se ambientar, cito a passagem da Bíblia na íntegra (Jó - Capítulo 1 - Versículo 1 a 22 e Capítulo 2 - Versículo 1 a 13):
"Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal.
E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.
E o seu gado era de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; eram também muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do oriente.
E iam seus filhos à casa uns dos outros e faziam banquetes cada um por sua vez; e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles.
Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Talvez pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente.
E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles.
Então o SENHOR disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao SENHOR, e disse: De rodear a terra, e passear por ela.
E disse o SENHOR a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal.
Então respondeu Satanás ao SENHOR, e disse: Porventura teme Jó a Deus debalde?
Porventura tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste e o seu gado se tem aumentado na terra.
Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face.
E disse o SENHOR a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do SENHOR.
E sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam, e bebiam vinho, na casa de seu irmão primogênito,
Que veio um mensageiro a Jó, e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pastavam junto a eles;
E deram sobre eles os sabeus, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
Estando este ainda falando, veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu, e só eu escapei para trazer-te a nova.
Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Ordenando os caldeus três tropas, deram sobre os camelos, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito,
Eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, que caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova.
Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou.
E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR.
Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.
E, vindo outro dia, em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles, apresentar-se perante o SENHOR.
Então o SENHOR disse a Satanás: Donde vens? E respondeu Satanás ao SENHOR, e disse: De rodear a terra, e passear por ela.
E disse o SENHOR a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal, e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa.
Então Satanás respondeu ao SENHOR, e disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida.
Porém estende a tua mão, e toca-lhe nos ossos, e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face!
E disse o SENHOR a Satanás: Eis que ele está na tua mão; porém guarda a sua vida.
Então saiu Satanás da presença do SENHOR, e feriu a Jó de úlceras malignas, desde a planta do pé até ao alto da cabeça.
E Jó tomou um caco para se raspar com ele; e estava assentado no meio da cinza.
Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre.
Porém ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.
Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que tinha vindo sobre ele, vieram cada um do seu lugar: Elifaz o temanita, e Bildade o suíta, e Zofar o naamatita; e combinaram condoer-se dele, para o consolarem.
E, levantando de longe os seus olhos, não o conheceram; e levantaram a sua voz e choraram, e rasgaram cada um o seu manto, e sobre as suas cabeças lançaram pó ao ar.
E assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande."
Agora, raciocinem comigo: um Deus, tão bom, misericordioso e prudente faz um trato com o seu opositor, o Diabo, para provar que Jó, seu eterno seguidor, realmente é digno de sua fé e que não o trairá. Sinto vergonha de, um dia, já ter seguido tal deus. INSOLENTE, HIPÓCRITA, IMORAL, EGOÍSTA. Estes são alguns de seus atributos. Humano, demasiadamente humano nos mostra ser a face desse deus. Esta passagem nos mostra o quão desgraçado se faz quem detém o poder. Sei que você já sentiu a dor de perder alguém muito querido. Agora, perder esposa, filhos, seus bens, sua saúde e quase morrer por que o seu Criador anuiu o desejo de seu opositor, o Diabo, em fazer um teste com você? Não consigo imaginar alguém que ama sua esposa e filhos, os perder por que seu Ser Supremo assim o autorizou, como se tais pessoas fossem objetos facilmente substituíveis. Como pode alguém ser tão mau a ponto de permitir isso. Nós, como humanos, jamais permitiríamos isso, visto que em primazia zelamos pela vida acima de tudo e, posteriormente, pela dignidade do ser humano. Mas, onde há dignidade em tal atitude. Fez Ele que Jó perdesse tudo: esposa, filhos, empregados, animais, a saúde e tudo em nome de Sua soberba, de seu poder esmagador e egoísta. Deus simplesmente ceifou vidas que não diziam respeito a crença de Jó. Cada pessoa responde individualmente por sua fé. E as vidas das outras pessoas, não valiam nada então? A de Jó tinha um valor inestimável frente a todas a outras?
Não me depararei apenas neste exemplo do uso indiscriminado do poder por Deus. A história nos conta que todos os grandes líderes, ao ter acesso ao poder, foram, de uma forma ou de outra, corrompidos. Isto é uma regra. Alexandre, o Grande; Constantino; Átila; Gengis Khan; Napoleão; Hitler e o próprio Deus. É, Ele também abusou do poder que tem em mãos como se fosse um "playboyzinho" mimado: "se não me obedecerem, vou destruir Sodoma e Gomorra, vou enviar um grande dilúvio para a terra e aniquilar com todos os descrentes ou vou condenar ao castigo eterno a todos que não fizerem o que lhes digo."
Se Deus é amor, é perdão, como Ele pode simplesmente tirar a vida, aplicar um castigo eterno ou meramente, tirar-lhe tudo pela mais pura petulância de um ser egoísta. Para mim, isto não é Deus. Isto é humano demais. Contudo, até os humanos são melhores. Não são aplicados penas eternas aqui na terra. Existem penas pecuniárias, de restrição da liberdade, reclusão, trabalhos forçados, pena de morte, mas não existe penas infindáveis. Seria preferível sermos julgados por nós próprios a sermos julgados pelo "Deus Eterno". Ao menos, as punições humanas têm tempo determinado, já as sobrenaturais, duram para todo o sempre.
Não, eu não posso tolerar e continuar aceitando este, entre diversos outros, exemplo de referência para a condução da minha vida na "verdade real". Não preciso seguir algum deus para ter bom senso e discernimento do certo, do errado ou do justo. A verdade não se esconde sob o manto das "palavras sagradas" mas, sim, sob a história sistemática e científica, contada e pesquisada por ambas partes envolvidas: a vencedora e a derrotada. Ao ser analisado algum fato, não se deve crer na primeira afirmação obtida, ainda mais se for por pessoas que se dizem conhecedoras da verdade e, infelizmente, seguidoras de apenas um único livro, qual seja, a Bíblia Sagrada.
O fato de alguém ter a coragem de questionar os dogmas da Igreja traz como consequência um fardo pesado de ser carregado. O mundo vai estar contra você. A audácia de contestar o incontestável faz de sua figura algo repugnante, algo corrompido, algo criminoso. Por vezes, sinto-me sozinho na caminhada em busca do conhecimento, pois não me é permitido o debate público sobre questões corriqueiras nas quais afrontam a vontade divina. Por vezes me sinto fraco e impotente. Mas, tenho a certeza de que não sou o único.
O que me anima no prosseguir é a certeza de não ter mais os olhos vendados ante verdades e princípios incontestáveis. A coragem em afirmar o NÃO me deixa mais forte, pois, apenas sustenta e confirma a minha crença: não ser dependente de um ser sobrenatural.
Noutro dia, chamaram-me arrogante por não querer discutir certo assunto religioso com determinada pessoa que, na verdade, mal sabe utilizar-se do vernáculo e, muito menos, possui afinidade com livros. Tal afirmação me atingiu como uma surpresa. Não imaginava que estava passando aos outros esta imagem sobre minha pessoa. Mas, ao analisar a afirmativa, concordo no sentido literal da palavra e em sua cominação. Se, ser arrogante é questionar dogmas e verdades absolutas, não estar satisfeito com atitudes tidas como corretas por parte da Igreja ou ter a mente aberta a novas explicações para o mesmo fato no intuito ter uma visão mais ampla sobre caso concreto e complexo, sim, eu o sou. Sou uma pessoa muitíssima arrogante.
Parafraseando Thomas Jefferson, prefiro estar na ignorância, isto é, afastar-me das respostas dos seres metafísicos, a insistir ao erro. Pois tenho certeza que vou estar menos afastado da verdade não "acreditando em nada" do que outra pessoa que acredita no errado.
Não sejamos mais um Jó, que aceita tudo e ergue as mãos para os céus louvando ao seu deus. Ser este, forjado na figura do ser humano conforme suas reais necessidades políticas e sociais, moldado através dos séculos ao bel prazer de seu verdadeiro criador: nós.
Sejamos mais, sejamos maiores, sejamos livres pensadores.
Assim penso. Assim digo. Assim escrevo.
"Tirar a ilusão de uma criança, mostrá-la à triste realidade da vida, quantas vezes for preciso, é um crime necessário para que ela aprenda a viver por si só. Desnecessário é deixar ela crescer confiando e acreditando, por tantos anos, até que um dia ela mesma, adulta e abismada, conclui que, na verdade, fora enganada por toda a vida." (Alfredo Bernacchi)